quinta-feira, 7 de julho de 2011

Credo- Apresentação do espectáculo


“Esperamos que a representação seja um olhar sobre a peça”.
                              Enzo Cormann

A peça Credo de Enzo Cormann é uma poética e tocante dissertação sobre a solidão e a perda, que nos mergulha no imaginário de uma mulher que se esforça por assassinar o seu isolamento quotidiano. O espectáculo que oferecemos ao nosso público em jeito de exercício é, mais do que a “coisificação” de um texto dramático hermético e erudito, um olhar sobre a peça do autor. Haverá outros, muitos outros olhares, igualmente possíveis, senão o que seria das infindáveis encenações e versões do Hamlet, do Rei Édipo e textos afins?
Enquanto companhia de teatro, em palco, tentamos legitimar as nossas opções dramatúrgicas e interpretativas, sendo fiéis aos próprios princípios de Cormann, que defende, na sua comunicação no colóquio La crise de la représentation”, de Fevereiro de 2007, na École Nationale Supérieure des Sciences de l’Information et des Bibliothèques, intitulada Crise de la représentation / Représentation de la crise - 9 notes pour un théâtre de crise, que “a representação se inventa, se efectua e passa como uma experiência, precisamente, e não como uma obra.”
É exactamente isso que pretende ser o nosso exercício: uma experiência (interpretativa e dramatúrgica). Note-se que ao optarmos por um monólogo para três actrizes, tivemos, necessariamente, de reestruturar o texto, de o reinventar e de o dotar de uma significação mais comunicante, sem, contudo, lhe retirarmos a poesia de que vive.
Sem nunca deixarmos de comunicar com o texto do autor, não nos deixámos limitar por ele, abrindo novas possibilidades de entendimento e de novos sentidos dramatúrgicos – interessava-nos que o texto dialogasse connosco, com o público, com a contemporaneidade e com o porvir. Não estávamos interessados em ser fiéis a didascálias (que por sinal são bastante minuciosas), não nos interessava começar na primeira página do texto e acabar na última. Através de uma espécie de construção de puzzle, e porque o Teatro é essencialmente jogo, presentificámos o aqui e o agora de uma composição escrita, não nos cingindo ao rasto de Cormann, mas instalando o autor no nosso tempo e no nosso espaço. Como Enzo Cormann afirma, a encenação “não é uma novidade, mas precisamos de a reinventar, de cada vez entrar em cena de novo. De cada vez nos re-presentarmos de novo.”

Em suma, não nos fixámos univocamente numa identidade autoral, antes a olhámos, com vontade de ver e sentir tudo o que lá estava e o que nós lhe acrescentámos. Muito. Assim como as personagens de Cormann “o vêem viver” e aquilo que ele propõe, em definitivo para elas, “são olhares e não identidades”, nós demorámos o nosso olhar sobre a sua peça Credo para oferecer novos olhares ao público. Talvez se cruzem com identidades…    


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Enzo Cormann


A vida de Enzo Cormann
Autor de mais de trinta peças de Teatro, Enzo Cormann é traduzido em inúmeros países espalhados pelo mundo. Mas mais do que um dramaturgo, Cormann é um homem de teatro: dramaturgo, encenador, actor, investigador e crítico de teatro, professor de dramaturgia (de 1995 a 2000 foi professor na École Supérieure d’ Art Dramatique de Strasbourg; de 1999 a 2001 professor associado da École Normale Supérieure LSH-Lyon; desde 2000, Cormann dirige o departamento de Escrita Dramática na École Nationale Supérieure des Arts et Techniques du Théâtre - ENSATT -). Ele próprio define-se como “artista de Teatro”. Enzo Cormann é, contudo, mais do que um artista de teatro, um artista plural: diseur de poesia, vocalista, dedicando-se com verdadeira paixão ao Jazz, com o saxofonista Jean-Marc Padovani, com quem já lançou discos e com quem criou La Grande Ritournelle – um projecto de jazz poético. Também escreveu canções para Jean Guidoni e Anna Prucnal e apresentou-se em concerto com diversas formações de Jazz. Mas a sua sede de experimentação não se esgotou aqui: em 2006, o autor aventurou-se como romancista, tendo publicado o seu primeiro romance (Testament de Vénus, Éditions Gallimard). Podemos, em suma, definir o autor como um homem comprometido com a reflexão acerca da sua escrita e do seu trabalho de encenador, com a transmissão de conhecimentos e experiências enquanto professor de Dramaturgia, com o seu entusiasmo pela Música, mas, essencialmente, como um homem comprometido com a vida partilhada, algo que os seus textos tentam sempre fazer sobressair.

A escrita de Enzo Cormann
Enzo Cormann, no texto publicado na Revue du Théâtre National de la Colline, intitulado L'artisan chaosmique, de 2004/2005, defende que não há nenhuma receita universal para abordar a escrita : « É um processo infinitamente concreto. Dia após dia, sento-me na minha secretária e escrevo, é isto. É igualmente um jogo de paciência : eu não me recordo de alguma vez ter conservado mais de uma página escrita no mesmo dia. Dez a vinte linhas «salvas » por dia é um ritmo de cruzeiro. Eu escrevo, leio, sonho, reflicto, tomo notas, fumo, atendo o telefone, envelheço. »
E mais à frente, no mesmo texto, confessa a cumplicidade que sente ao ler peças de outros autores contemporâneos, encontrando uma estranha cumplicidade com os seus colegas de pena : « Leio muito peças contemporâneas estrangeiras. Tenho muitas vezes a impressão de que os seus autores escrevem no quarto ao lado do meu. Nós amámos as mesmas raparigas, bebemos o mesmo vinho mau nas mesmas cantinas, chorámos de vergonha perante as mesmas imagens… Nós temos a mesma fraqueza (o mundo não nos  convém tal como é), e a mesma força (para dar o melhor de nós mesmos). De que precisamos mais ? – lápis e papel.»
A par das suas iniciativas individuais, Enzo Cormann também se empenhou em iniciativas conjuntas, tais como a Coopérative d’Écriture, que reúne vários nomes de escritores com quem tem afinidades artísticas. Através do manifesto da Cooperativa ficamos a conhecer outros dos propósitos do autor: “Nós temos o gosto do confronto, o gosto da tentativa, nós desejamos quebrar o maior número de vezes possível o isolamento inerente à escrita (…)”.
Haverá forma mais eficaz de quebrar o isolamento da escrita do que partilhá-la com encenadores, actores e, através da visão criativa destes, partilhá-la com o público? Isto é confronto, é tentativa de comunicação, é comunhão. É linguagem teatral.

Credo- Exercício 1



Sinopse
Por vezes, digo frases em que não pensei verdadeiramente. E é uma outra que fala, e não sei quem. Ela murmura palavras ao contrário, coisas que não têm sombra; ela é um pouco o seu sol. E é também a lua, a noite, que as embala. Há tantas coisas sem vida. Essas frases, muitas vezes, não as compreendo mas sei que a verdade é sempre difícil. 
In CREDO, Enzo Cormann

Ficha Técnica
Texto Enzo Cormann • Encenação e Interpretação Cecília Ferreira, Isabel Carvalho, Joana Magalhães • Cenografia Carina Gaspar • Design e operação de luz Pedro Nabais • Design e operação de som Filipe Ribeiro • Design gráfico Franck de Almeida • Produção Teatro a Quatro

REBAJAS!





Trata-se de uma nova co-podução entre o Teatro Bandido e o Teatro a Quatro, desta vez no formato de teatro de rua.


Ideia:
A partir da ideia dos leilões que se efectuam nas feiras mais populares, procura-se abordar, com comicidade, ironia e muita iteracção com o público, as seguintes problemáticas sociais: ideia de Mulher-objecto, violência doméstica e tráfico de seres humanos.

Sinopse: 
Johny Silva Lê dê á, é o nome da empresa de Jonhy Silva, um vendedor ambulante que anda de cidade em cidade, com uma carrinha de caixa aberta, a vender mulheres em saldo. Enquanto estas fazem “demonstrações das suas habilidades domésticas, e etc.” Jonhy Silva vai fazendo o seu leilão, a partir das licitações do público.

Teatro para bébés - O Sol e a Lua


O projecto "Teatro para bébés" estreou no passado dia 5 de Junho no Pequeno Auditório do Rivoli e foi um sucesso. Repete-se todos os primeiros domingos de cada mês, no mesmo local, sempre com um tema diferente. O primeiro teve como mote o Sol e a Lua.













Teatro para bébés



Teatro Para Bebés é um projecto de teatro e música dedicado aos mais pequenos (0-3 anos) que privilegia a proximidade entre a cena e o público, promovendo a interacção com os actores, fazendo com que, mais do que um espectáculo, cada peça seja uma experiência sensorial e didáctica. clique aqui para saber mais

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Manuel António Pina e o Sítio do não-se-sabe-onde


«Penso que o teatro infantil não deve ser nada. Dever ser o que quer que seja é exactamente o contrário do que, julgo eu, é a arte: liberdade. (…) A imaginação, como tempo e lugar privilegiado de liberdade, é naturalmente tempo e lugar privilegiado da arte. (…) Eu não escrevo para provar nada; nem para ensinar nada, muito menos às crianças. (…) O teatro infantil (o teatro!) não deve ser nada, não tem que ser nada. Se calhar nem mesmo teatro» (Pina, 2007: 126).


Acerca do autor

Nascido no Sabugal, Guarda, em 1943, Manuel António Pina foi jornalista durante várias décadas e estreou-se na poesia em 1974 com o livro “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde”. No ano anterior publicara o seu primeiro livro para crianças, “O País das Pessoas de Pernas para o Ar”. Consensualmente reconhecido como um dos melhores cronistas de língua portuguesa – ainda hoje assina uma crónica diária no Jornal de Notícias –, Manuel António Pina publicou dezenas de livros de poesia e de literatura para crianças, mas só em 2003 se aventurou na ficção “para adultos”, com “Os Papéis de K.”. 

Se a sua obra de ficção é menos conhecida internacionalmente, a sua poesia está traduzida na generalidade das línguas europeias. O seu mais recente livro de poemas, intitulado “Os Livros” (Assírio & Alvim, 2003) venceu os prémios de poesia da Associação Portuguesa de Escritores e a da Fundação Luís Miguel Nava. Em Maio de 2011 é premiado com o Prémio Camões, o maior prémio literário de Língua Portuguesa, destinado a galardoar um autor de língua portuguesa pelo conjunto da sua obra.


Manuel António Pina e a literatura dramática para crianças

Tendo em conta o potencial receptor da sua produção literária, salienta-se um maior número de obras poéticas destinadas a adultos, enquanto, para a infância, é o texto dramático que possui um notório relevo, assinando o autor mais de duas dezenas de títulos. Com efeito, MAP é um dos autores que – juntamente, por exemplo, com António Torrado – mais têm contribuído para a legitimação da literatura dramática e/ou do teatro para crianças em Portugal. A sua ligação profunda, entusiasmada e conhecedora ao teatro reflecte-se, por exemplo, no facto de, em 1978, ter sido um dos sócios-fundadores da Companhia portuense Pé de Vento, de, em 1982, ter sido bolseiro do Centro Internacional de Teatro de Berlim junto do Grips Theater, e de ter recebido, em 1988, o prémio do Centro Português para o Teatro para a Infância e a Juventude (CPTIJ), pelo conjunto da sua obra neste domínio. Acrescente-se, ainda, o elevado número de textos seus levados à cena por inúmeras companhias de teatro portuguesas.

Manuel António Pina e os desafios da linguagem
O humor, as interrogações em torno da linguagem, da conversa e da desconversa, bem como a reflexão sobre as relações entre pensamento e linguagem constituem aspectos a ter em conta na abordagem de uma obra que, sendo um caso singular na nossa literatura para a infância, se inscreve numa tradição cujo representante máximo é, provavelmente, Lewis Carroll – autor que, juntamente com A. A. Milne, integra o núcleo das preferências literárias de Manuel António Pina.

Apresentação do espectáculo

A capacidade deste autor de fazer mergulhar miúdos e graúdos no inverso onírico e mágico da palavra-bailarina, da palavra-trapezista, da palavra- palhaço, da palavra-pintora determinou a escolha dos textos de Manuel António Pina como inspiração para este espectáculo.

O SÍTIO DO NAO-SE-SABE-ONDE é uma peça de teatro para crianças do Pré-escolar e do Primeiro Ciclo, concebida a partir de alguns dos  textos  mais marcantes de Manuel António Pina para a infância, que vão desde a poesia ao texto teatral, alguns deles recomendados pelo Plano Nacional de Leitura para o primeiro ciclo.
Neste espectáculo,  podem-se encontrar excertos e personagens de "Gigões & anantes" (1974), "O têpluquê" (1976), "O pássaro da cabeça" (1983); "Nenhum sítio" (1984), "O inventão" (1987), e de "Histórias que me contaste tu" (1999). Salientamos, nesta escolha, a obra o Inventão, que, nas palavras de Álvaro Magalhães, «… é talvez o melhor livro de sempre na literatura infantil» (citado por Rita Pimenta in Público de 13 de Maio de 2011), um achado em termos de criatividade linguística, com não poucos incentivos à reflexão, susceptíveis de estimular o chamado pensamento divergente e o “ Histórias que me contaste tu”, em que, o Escaravelho Bocage, contador de histórias, personagem deliciosa do imaginário de Manuel António Pina, volta a aparecer, não se sabe bem de onde (como sempre), para deixar mais uma mão cheia de contos envoltos num denso nevoeiro onde se confundem as personagens, a ordem cronológica e até as palavras.

O Sítio- press release

O sítio do não-se-sabe-onde- Pequeno Auditório do Rivoli





O sítio do não-se-sabe-onde




O Teatro a Quatro e o Teatro Bandido apresentaram, de 15 a 19 de Novembro, no Pequeno Auditório do Rivoli, “O Sítio do Não-se-sabe-onde”, uma peça de teatro infantil para crianças do Pré-escolar e do Primeiro Ciclo, concebida a partir de textos de Manuel António Pina – cronista, poeta e um exímio fazedor e contador de histórias.
A sua capacidade de fazer mergulhar miúdos e graúdos no universo onírico e mágico da palavra-bailarina, da palavra-trapezista, da palavra-palhaço, da palavra-pintora determinou a nossa escolha. E é aqui que estamos agora a instalar-nos – neste lugar onde moram os inefáveis seres que só existem nas boas histórias. Não temos, portanto, outro remédio senão sonhar, imaginar, fantasiar, magicar, brincar muito. Aguarda-vos, portanto, um espectáculo incomum, desafiador mesmo dos sentidos maus incautos, um mergulho num universo artístico polifónico.

Sinopse
Num sítio de não se sabe onde, seres que não se sabe se o são contam histórias que por vezes não o chegam a ser.
O anão Inventão crê-se o maior intelectual do mundo e conta histórias até ao fundo; O escaravelho Bocage perde-se e esquece-se de como age, tem mau humor e é mau contador. Para saberes como é, espreita e entra nesta Arca do Não É.


Ficha Técnica
Interpretação: Catarina Santos, Cecília Ferreira, Joana Magalhães, João Costa,Luís David; Luz: Pedro Nabais; Som: Filipe Santos; Produção: Vanessa Freitas

Corta!- teaser

Corta!- 15 a 17 de Abril de 2011, Estúdio 0



Corta!- trailer



 

Corta!- 23 a 25 de Julho de 2010, Estúdio 0






Corta!


Sinopse


Inspirado na mundividência cinematográfica de Pedro Almodóvar , eis um universo feminino reinventado, mas não menos excessivo e misterioso.
Quatro mulheres à beira de um ataque de nervos, e de saltos altos, aderem à lei do desejo e deixam-se perder num labirinto de paixões, de má educação, de negros hábitos e de abraços desfeitos, matadores. Às vezes choramos abundantemente. Às vezes rimos a bandeiras despregadas. 



Ficha Técnica

Texto Cecília Ferreira • Encenação e Interpretação Catarina Santos, Cecília Ferreira, Isabel Carvalho, Joana Magalhães Cenografia Hugo Ribeiro • Design de luz Romeu Guimarães • Design de som Rui Sampaio Montagem de vídeo Rui Sampaio Operador de luz Diana Correia • Operador de som Pedro Vieira • Design gráfico Ricardo Mendes • Teaser publicitário Miguel Fernandes • Cabeleireiro Leonel Fernandes Produção Vanessa Freitas • Voz-Off Ricardo Rocha

Teatro a Quatro


Quem somos?

O Teatro a Quatro nasceu no ano de 2010, no Porto, da vontade de continuar a fazer teatro de quatro actrizes finalistas da ESMAE e do seu desejo comum de trabalhar sobre o universo feminino. 
Almodovar foi a primeira inspiração e o ponto de partida. A partir daí foi um torvelinho de ideias, reflexões e um mergulhar conjunto no universo do cineasta. De um work in progress disciplinado surgiu um texto original e uma criação colectiva. Corta! foi o primeiro trabalho do Teatro a Quatro e foi apresentado em Julho de 2010, no Estúdio 0.
O segundo trabalho com a marca Teatro a Quatro surge em Junho de 2011, na Fábrica da Rua da Alegria, desta vez debruçando-se sobre a peça Credo, do francês Enzo Cormann, uma poética e tocante dissertação sobre a solidão e a perda, que nos mergulha no imaginário de uma mulher que se esforça por assassinar o seu isolamento quotidiano.
Em co-produção com o Teatro Bandido, o Teatro a Quatro fez ainda uma incursão no teatro para a infância, apresentando o espectáculo O Sítio do não-se-sabe-onde, baseado em textos de Manuel António Pina, no Pequeno Auditório do Rivoli em Dezembro de 2010, no teatro de rua, apresentando o espectáculo Rebajas! em Abril de 2011 e no teatro para bébés, fazendo parte do projecto Teatro para Bébés, apresentado periodicamente no Rivoli- Teatro Municipal.
Actualmente o Teatro a Quatro faz parte de uma associação - Associação Cultural Bandido e Teatro a Quatro - juntamente com a companhia Teatro Bandido e é uma das companhias residentes da Fábrica da Rua da Alegria.